Janeiro de 2006. Uma placa de concreto pesando cerca de 10 toneladas desprende-se do 12º andar do Campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Por ser período de férias, ninguém saiu ferido. Meses depois, numa assembléia com os estudantes da Faculdade de Comunicação Social, o diretor João Pedro Dias Vieira negou que o incidente tenha acontecido, minimizando o fato através de tergiversações a respeito da nomenclatura específica do que caiu. "Não foi uma mureta, foi uma parte da passarela", afirmou à época.
Dois de outubro de 2007. Um incêndio destrói metade de um andar na Uerj, afetando, inclusive, as dependências da reitoria. Além desta, diversos andares são danificados na parte elétrica e estrutural. Por um golpe de sorte, era domingo e não havia gente na Uerj. A universidade fica uma semana inutilizada. O caso ganha repercussão mundial, sendo noticiado inclusive pelo site do jornal "The New York Times". Mais uma vez, o diretor da FCS tenta minimizar os fatos e garante que não houve qualquer alteração ou problema estrutural, e que as aulas podem ser retomadas normalmente. Ao responder um e-mail para uma manifestação em defesa da Uerj, contra a política draconiana imposta pelo governo estadual, congregando todos os setores, o diretor João Pedro diz que o estacionamento não seria um local adequado para aulas, pois impediria as pessoas de estacionarem seus carros.
Os cortes sucessivos impostos pelo governo, e gentilmente acatados pela reitoria, nunca estiveram na pauta da direção da FCS nos últimos quatro anos. Nesse tempo, a instância máxima da nossa faculdade se tornou um mero lacaio da administração Nival, curvando-se caladamente aos descalabros cometidos. Nem mesmo o enorme esforço de congregar estudantes por uma causa - como na greve de 2006 e nas recentes mobilizações pós-incêndio - encontramos eco no diretor da faculdade. Ao contrário, qualquer gesto neste sentido gerou reações descabidas e ataques despropositados. O diretor julga que o centro acadêmico é inimigo público número 1, e o faz com ironia, desmerecendo os estudantes por pensar de maneira independente do que prega sua gestão.
Postando-se como o velho ancião que dá conselhos à tribo, ele envia um e-mail ao centro acadêmico - instância máxima de representação dos estudantes de uma faculdade - dizendo que questionar a ordem é agir como "vampiros de energia, que desejam ver os outros com a auto-estima baixa para subverter a ordem, ou a alma". A frase, que parece retirada de um livro do imortal Paulo Coelho, não condiz com a postura do chefe de uma instância universitária pública e democrática. Ao invés de ouvir os estudantes e estimular o debate, João Pedro ataca e ameaça aqueles que ousam a pensar diferente.
Briga ainda contra os fatos, erro imperdoável a todos os (bons) jornalistas. Relativiza questionamentos chave, e autodenomina-se preparado para dizer que a Uerj está apta a receber novamente os cerca de 22 mil estudantes. No e-mail faz questionamentos que gentilmente respondemos:
Que relação existe entre ter o laudo do incêndio e o funcionamento da UERJ?
O laudo é o instrumento capaz de informar se as instalações da universidade são capazes de receber os estudantes, sem risco. Há muito sabemos, pela própria observação ou pelo vasto noticiário, que a Uerj não conta com brigada de incêndio e plano de fuga. As saídas de emergência estão trancadas e as mangueiras furadas. Não há alarme ou qualquer outro sistema. Não há notícia de que a Reitoria tenha pedido ao governo do estado a implantação de qualquer uma dessas medidas para reverter o quadro.
Só podemos retornar quando soubermos a causa do incêndio?
Seria, no mínimo, desejável. Prezamos pela integridade física de toda a comunidade da Uerj, e não estamos interessados em picuinhas políticas daqueles que querem abocanhar cargos na administração pública apenas para se locupletar. Queremos segurança e, principalmente, respeito. Os estudantes não podem ser considerados massa de manobra ou meros ouvintes de aulas enfadonhas. A universidade é um espaço de debate, onde todas as opiniões devem ser ouvidas, sem descrédito ou desmerecimento por parte dos interlocutores. É incrível que, um professor universitário que atravessou uma sombria ditadura militar, aja de maneira tão autoritária.
Quem disse que temos colunas e vigas comprometidas?
Um incêndio das proporções que as fotografias mostraram e que, em determinados lugares, pode ter chegado aos 1000ºC, sempre deixa seqüelas. Mesmo que não se possa afirmar peremptoriamente antes das devidas vistorias, o risco existe, e é real.
Que sucessivos desastres estruturais tivemos?
A queda de um bloco de concreto de 10 toneladas, um incêndio no depósito de papel e outro incêndio no domingo, dia 2 de outubro de 2007.
Ou melhor, o que vocês chamam de sucessivos desastres estruturais?
A queda de um bloco de concreto de 10 toneladas, um incêndio no depósito de papel e outro incêndio no domingo, dia 2 de outubro de 2007. Sem esquecer, é claro, da administração de João Pedro Dias Vieira entre 2004 e 2007 na Faculdade de Comunicação Social da Uerj.
O que é um desastre estrutural?
O diretor de uma faculdade de comunicação social perguntar aos seus estudantes o que é um desastre estrutural. "Fazer política não é fazer terrorismo" Essa é mais uma das pérolas enviadas pela internet vindas do diretor João Pedro. Era só o que faltava. Se nem Bush consegue convencer o mundo sobre o conceito de terrorismo, não será o diretor da FCS-Uerj que irá fazê-lo. Daqui a pouco vai acusar o Cacos de enriquecimento de urânio para fins nucleares.
Divulgamos, com muita vergonha e indignação, esse manifesto. Nos últimos quatro anos, a FCS caiu num obscurantismo de repartição, e seus docentes - com raras e honrosas exceções - não assumem papel de destaque na sociedade. Não escrevem artigos, reportagens ou dão opiniões sobre os rumos da comunicação no Brasil e no mundo. De que adianta ser um acadêmico se não há qualquer movimento para fazer com que suas idéias sejam levadas a outras pessoas?
Esperamos que a mediocridade exposta na "Era João Pedro" possa ser revertida na "troca da guarda" marcada para o fim deste ano. Mesmo carente de opções, com uma única chapa concorrendo ao pleito, esperamos uma administração combativa, atuante, democrática e que contribua para melhorar o cenário do ensino da comunicação social no Brasil. Mas, se respeitar a integridade física e o questionamento dos estudantes, já será um bom começo. Caso contrário, os estudantes estarão de olho para cobrar as promessas.
Que venha dezembro!
Centro Acadêmico de Comunicação Social da Uerj / Cacos-Uerj
Outubro de 2007
Muitos, contemporaneamente, dizem que os jovens não têm mais a vivacidade e a eloqüencia para reivindicar as causas da sociedade. Que estão cheios de morbidez em seus quartos, restringindo-se em lutar contra os inimigos dos joguinhos de videogame.
ResponderExcluirNós, jovens, já vimos esses "muitos" blasfemarem isso na tv, e, em sua maioria, são os mesmos ativistas da causa pró-democracia durante a ditadura militar.
Mas o que me surpreende mesmo é a hipocrisia de alguns destes -e um em especial- ao criticar as manifestações pacíficas de estudantes da Uerj, jovens, que lutam em busca de melhores condições, condições básicas, para se ter um ensino de qualidade.
Ao invés de nos apoiar, perde a memória rapidamente ao ser questionado, refuta afirmações tão óbvias e, em sua morosidade e ignorância, continua sua caminhada lenta e fúnebre até o fim, até o fim...
Contudo e com efeito, isso não pode e não vai impedir que jovens, engajados e esperançosos de soluções, parem e fechem os olhos para a verdade cruel e injusta da situação da universidade pública, em especial da Uerj -um lugar que chamamos quase de "primeira" casa, passamos mais tempo lá do que em nossas próprias casas-, almejando que a universidade pública possa ainda ser conhecida como a melhor do Brasil, apesar dos tubarões espreitos prontos para nos boicotar.