Foto de Renan Setti
A manifestação, organizada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), contaria com um burro de verdade. Mas, segundo a organização, não foi possível entrar com o animal na universidade. Os estudantes estabeleceram o prazo de dois dias para que o governo estadual se posicione acerca do corte no orçamento. Caso não obtenham respostas, uma nova manifestação será realizada, desta vez no Palácio Guanabara, sede do governo.
De acordo com a Secretaria de Ciência e Tecnologia, o corte no orçamento não afetará a qualidade de ensino na Uerj. Em nota, a Secti informou que a diminuição das verbas irá trazer problemas na autorização para novos concursos e na implantação do plano de cargos e salários, reivindicação primordial de funcionários e professores da instituição. A Secti disse também que negociações foram abertas com a Secretaria de Planejamento para que os servidores não sejam prejudicados.
O estudante do curso de filosofia Paulo Victor Assis, de 20 anos, dirigente do DCE, disse, entre uma e outra rajada de gás de pimenta, que o corte no orçamento deixará uma profunda seqüela na universidade que é o encerramento dos contratos de professores.
- O corte no orçamento gera insatisfação e dimuinui a perspectiva dos estudantes em relação à universidade pública - afirmou, ainda tossindo.
Apesar dos olhos lacrimejantes, o estudante, vestido de blusa verde social e calça jeans, agradeceu os esforços da polícia a um sargento que apenas respondia: "é justo, é justo". Sobre a posição da polícia, Paulo Victor preferiu contemporizar:
- Eles estão fazendo apenas o seu trabalho, de maneira correta. Mas o nosso ato é radical, vamos reivindicar e não abriremos mão disso - ressaltou, com a fala rápida e eloqüencia de pastor evangélico.
Numa kombi, os dirigentes dos mais variados partidos e tendências políticas - todos de esquerda - se revezavam ao microfone, onde conclamavam os estudantes a lutar contra a redução das verbas na universidade. Com a habilidade de palanque e uma caixa de som estourada, sobraram discursos sobre racismo na Uerj; sobre o aumento do valor das bolsas estudantis (hoje em R$ 190); e auto-elogios sobre a atuação do movimento. Uma repórter de TV desavisada e esbaforida chegou até o protesto e, prosaicamente, perguntou a um estudante vestido com orelhas de burro:
- Que tumulto é esse, aí?
Um integrante da gestão passada do DCE, hoje na oposição, disse que o sucesso do ato deve-se a uma carência dos estudantes em relação a protestos. Ele, que preferiu não se identificar, elogiou a mobilização, mas ponderou que a articulação foi mínima.
- O DCE se aproveitou corretamente de uma carência dos estudantes em protestar. A articulação foi básica e fraca, resumindo-se a cartazes nos andares e convocatória por e-mail - disse.
O calor de primavera não fez com que a multidão disperssasse até que a passeata percorresse o perímetro do campus Maracanã. Quase na esquina da Avenida Professor Eurico Rabelo com a São Francisco Xavier, uma estudante apresentou uma idéia tentadora a seus amigos:
- Vamos fazer uma passeata até o Loreninha?
O famoso bar do circuito etílico da Uerj realmente não ficou de fora da rebarba da manifestação. Enquanto a caixa de som da kombi ainda chiava discursos de lideranças do movimento estudantil, grande parte dos estudantes já tinha optado por uma cerveja gelada.
"O Dia" botou no site:
ResponderExcluirhttp://odia.terra.com.br/rio/htm/geral_124181.asp
E ainda falaram que jogaram spray de pimenta pra conter os ânimos de vocês, vê se pode...